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diagnóstico

O diagnóstico “Brasília Cidade Sentimental” é um levantamento realizado com o público,  que viabiliza o carnaval em todo o Distrito Federal, a fim de compreender melhor como é feita sua construção, entender o papel e os esforços empreendidos por cada ator e atriz que incide localmente para a concepção e efetivação desse evento, que movimenta não só foliões e foliãs, mas diversos atores governamentais, da sociedade civil e da cadeia produtiva da economia criativa como um todo. 

Nesse sentido, esse espaço tão diversificado e importante, passa necessariamente por um processo analítico do quadro atual. Ele é entendido como conhecimento basilar, para que, a partir dele, seja possível propor um modelo de gestão do carnaval do DF, que responda melhor à realidade da construção local. Então, o diagnóstico “Brasília Cidade Sentimental” traz oito temas de pesquisa:

Diversidade

A diversidade é uma das marcas do carnaval brasiliense em diversos aspectos. Não só a música percorre um caminho bem amplo, onde entram o maracatu, o samba, o pop-samba, o funk, o eletrônico, e até o rock, mostrando quanta referência entra na construção do nosso carnaval, como também nos identificamos com pautas sociais, que movimentam o consciente coletivo nesta época, e acabam refletidos na maior festa popular brasileira.

Ao longo de 60 anos de carnaval, essa temática acompanhou o amadurecimento de temas à medida em que eles iam sendo incorporados à sociedade, e se entranhando aos valores de cada época. É possível visualizar essa tônica, por exemplo, em músicas de carnaval que não são mais tocadas, pelo entendimento de que passam do humor e da brincadeira. Temos um reconhecimento cada vez maior do combate a todo tipo de violência e preconceito, temos a defesa bem clara de algumas bandeiras.

Fomento

Investir no acesso à cultura é parte do caminho para uma nação se ver enquanto coletivo.  Esse movimento parte, simultaneamente, de vários atores, que assumem espaços de atuação diferentes. Ao longo dos anos, o entendimento sobre esses atores foi mudando, acompanhando a evolução do tema, até chegar ao que temos hoje.

Atualmente, a clareza sobre o Artigo 215 da Constituição Federal torna mais madura e enfática a defesa do papel constitucional do Estado, que é garantir o “pleno exercício dos direitos culturais e acesso às fontes da cultura nacional”. As empresas, por sua vez, podem oferecer recursos que são usados como patrocínio e em troca recebem contrapartidas como o incentivo fiscal dado pelo governo, assumindo a realização de conceitos como a Responsabilidade Social Corporativa (CSR) e Responsabilidade Cultural Corporativa (CCR).

Formato

O carnaval no Distrito Federal é pungente e se manifesta de diversas formas. A folia vai desde escolas de samba, bailes em clubes, blocos de ruas, até festas em bares e estabelecimentos. Ela também se manifesta em diversos tamanhos de públicos, gêneros musicais, locais e formas de atuação – trio elétrico, palco, cortejo, alegorias, bonecos de cera, entre outros.

Os primeiros moradores da Capital contam que, desde antes da inauguração da cidade, já pensavam na folia e festejavam na Travessa Dom Bosco, na região chamada de Cidade Livre (hoje conhecida como Núcleo Bandeirante), segundo  uma matéria da jornalista Gizella Rodrigues, da Agência Brasília, de 2020. Os festejos aconteciam também nos clubes no Núcleo Bandeirante e no Plano Piloto, e a primeira escola de samba foi inaugurada em Outubro de 1962, a ARUC – Associação Recreativa Cultural Unidos do Cruzeiro.

Também em paralelo com a antiga capital federal, surgem em Brasília novas maneiras de brincar na rua: as neo-fanfarras – novas versões da fanfarra tradicional que não ficam restritas a marchinhas e músicas marciais, mas ampliam seus repertórios para a contemporaneidade da música brasileira – que representam uma valorização também do visual, através do uso de fantasias e de pernas de pau, e de uma grande valorização da interação com o público, geralmente com o uso de algum tipo de coreografia.

Legislação

O marco legal é importante, porque orienta e integra as diversas fontes de fomento. Atualmente o Carnaval do Distrito Federal possui uma multiplicidade de possibilidades de apoio. No âmbito Nacional, existe a possibilidade de aprovação de projetos via Lei de Incentivo a Cultural (Antiga Lei Rouanet), apoio direto via edital da Secretaria Nacional de Cultural. Já na esfera distrital, estão disponíveis a Lei de Incentivo à Cultura do Distrito Federal (LIC-DF) e os recursos do Fundo de Apoio à Cultura (FAC). Além disso, é possível contar com o patrocínio direto de empresas locais. Todos os caminhos citados anteriormente, demandam dos agentes culturais a capacidade de formulação e execução de seus projetos.

Há muitos carnavais no Brasil, cada um com sua história. Os maiores atualmente são os de São Paulo, Rio de Janeiro, Recife e Salvador. A folia em Brasília, apesar de não estar entre as maiores, caminha numa trajetória ascendente ao longo dos últimos anos. Além de características próprias de cada tipo de carnaval brasileiro, é importante destacar que a legislação de apoio e fomento também são muito diferentes, dependendo da localidade, há um marco legal distinto.

Políticas Públicas

O arco de políticas públicas desenhadas para fortalecer a capacidade organizativa do Carnaval de rua é amplo e multisetorial. Pensar um Carnaval de Rua democrático e diverso, depende não só da capacidade de formulação e execução estatal, como também de outros atores (organizações da sociedade civil e iniciativa privada). O marco legal desenhado para as políticas culturais aborda diversos aspectos e nuances. 

Seja pelo potencial turístico, ou pela relevância cultural, o fato é que, assim como nas outras capitais, a disputa por apoio é acirrada. Até hoje, a principal política pública que orienta o Carnaval de Rua não abarca uma série de atores e atrizes relevantes. O que reforça o argumento de que é necessária uma integração entre os diversos segmentos que pensam o Carnaval.

O que vemos é uma enorme descontinuidade das políticas públicas. Os Carnavalescos do DF estão inteiramente dependentes do apoio estatal, sendo assim, há a necessidade de se consolidar o Carnaval como uma política de Estado. Começando pela atualização da legislação, que completa dez anos este ano, até a transformação de cada elemento em política pública integrada e transversal (Ferreira, 2004).

Segurança

Ao analisar a perspectiva da segurança pública, entram novos elementos na balança da produção deste grande evento, que tornam este assunto ainda mais complexo e polêmico. A resolução da questão da segurança pública durante a folia, depende de um diálogo extenso entre os fazedores de carnaval e o governo, para garantir um carnaval seguro e democrático. Cada festividade tem suas peculiaridades, que se tornam ainda maiores quando falamos de cidades diferentes. Afinal, as manifestações são múltiplas, têm necessidades específicas, e impactam a vida pública de maneiras também específicas. 

Entre os aspectos relevantes para o debate está a frágil relação que esses grupos mantêm com as forças de poder do Estado, e que faz persistir o sentimento de que, na maior parte dos estados brasileiros, o assunto não é tratado com o comprometimento que deveria. Ora, pois, o uso de violência se perpetua ano após ano, e, na maioria das vezes, são criadas tantas burocracias, que muitos blocos acabam preferindo não levar este assunto adiante, e acabam por não oficializar os seus movimentos. Criam-se, portanto,  os blocos oficiais e os não-oficiais, sendo, o segundo tipo, aquele que sai sem a autorização formal do Governo. A construção da relação entre segurança e carnaval, abre espaço também para atores de defesa da festividade, como é a Defensoria Pública, que ajuda a equilibrar um pêndulo frágil.

Sustentabilidade

O carnaval é uma importante manifestação cultural da população brasileira e tem um imenso potencial econômico e social. No entanto, os problemas gerados durante a folia levantados nesta seção, refletem a realidade de desigualdade, infraestrutura precária e falta de conscientização ambiental do País. Sendo assim, devem ser tratados como questões públicas pelos governos federal, estaduais, distrital e municipais, pois impactam a sociedade brasileira em diversos aspectos. 

Não há dúvidas de que todo carnaval gera impactos diretos no meio ambiente, alguns dos principais são a quantidade de lixo produzida, o uso do glitter tradicional (que afeta diretamente diversas cadeias alimentares, principalmente nos oceanos). No entanto, a potência que o carnaval tem para transformar essa movimentação em grande aliada ao meio ambiente é enorme, mas demanda que isso seja pauta dos atores que fazem o carnaval. Durante os dias de festa, a quantidade de resíduos sólidos gerados aumenta significativamente. Neste período, latinhas, vidro, papéis, e vários outros tipos de materiais são descartados pelas ruas da cidade, causando sérios impactos ao meio ambiente. No entanto, todas estas problemáticas têm solução, só basta que haja organização e diálogo entre os foliões, iniciativa privada e Estado.

Territórios

Na busca pela identidade carnavalesca de Brasília, percebe-se que um dos maiores ativos simbólicos deste movimento é a cultura de rua, que entende a potência do surgimento de um território carnavalesco como passo rumo à Cidade Sentimental. E, ao contrário do que diz a geografia, é possível inferir que o território vai muito além de uma área delimitada por fronteiras e definida a partir de uma relação de posse. O território carnavalesco é composto por diversidade, ele é composto por aqueles que fazem o carnaval no dia-a-dia.

Desta forma, foi elaborado um esquema que elucida a distribuição destes movimentos através do território de Brasília, um mapa que identifica cada um dos atores que habitam este território carnavalesco, e as características que os diferem dos demais:

 MAPA INTERATIVO 

O Carnaval do Distrito Federal, assim como os de outros municípios brasileiros possuem inúmeros desafios para sua estruturação e consolidação. Esse trabalho partiu do universo geral e afunilou para os blocos alternativos que nos últimos anos têm ocupado territórios e disputado o imaginário da cidade, enfrentado desafios para o fortalecimento e aceitação dessa importante manifestação cultural.